“Hoje, que eu tenho uma maior consciência depois de estudar mais sobre Diversidade e Inclusão e questões de gênero, eu percebi que posso ter me ‘masculinizado’ para me impor”.
O relato de Fabiana Dutra, primeira mulher a ocupar uma cadeira na diretoria da Timenow, pode ser familiar para diversas mulheres que ocupam cargos de liderança. Para a minoria que alcança cargos gerenciais e de diretoria, pode ser comum o sentimento de precisar “ser mais parecida com os homens” para conquistar o mesmo respeito e reconhecimento.
Dados do IBGE de 2019 apontam que, naquele ano, apenas 37% dos cargos gerenciais no mercado eram ocupados por mulheres. Quando considerada a posição de CEO em grandes empresas, apenas 3,5%, segundo a BR Rating. Ainda minorizado, o grupo de mulheres líderes acumula relatos constantes sobre a necessidade de se impor e, eventualmente, até mesmo bater de frente com colegas para conquistar o espaço e respeito que a liderança impõe.
No caso de Fabiana, a percepção veio durante o tempo em que atuou como gestora no RH de uma gigante da área automobilística. Após mais de 15 anos de carreira nos setores de Marketing e Finanças, foi ali o espaço em que ela se deparou com episódios de preconceito.
“Ali, sim, eu precisei reforçar uma postura mais dura. Passei por episódios de piadas, brincadeiras, risadas, comentários sobre eu não entender de carro por ser mulher, por exemplo”, relata.
Apesar disso, enquanto esteve no setor, Fabiana viu uma mudança de posicionamento das marcas em relação às mulheres. A motivação, no entanto, se mostrou muito mais de cunho comercial do que de valorização da diversidade.
“Houve uma mudança de visão da mulher quando a indústria percebeu que não eram os homens as pessoas decisórias. Ou seja, foi interessante perceber que mesmo quando houve a mudança, foi por interesse comercial e não por uma questão de respeito. Hoje eu penso e questiono isso”, destaca.
Trajetória
Administradora com MBA em Marketing e Finanças e Gestão Estratégica de Pessoas, Fabiana começou a trabalhar aos 16 anos na empresa do pai, onde aprendeu a “se responsabilizar” pelos seus resultados e conquistas.
“Eu sou filha de uma professora e um executivo que depois se tornou empresário. Se tem uma coisa que aprendi desde pequena é minha responsabilidade sobre minhas conquistas. Comecei aos 16 anos e fazia uma atividade simples, de conferência de estoque, mas desde aquele momento eu comecei a vivenciar algumas questões de preconceito, como não me deixarem fazer atividades maiores. Mas, como era uma empresa familiar, o respeito vinha por ser filha do dono”, relembra.
Comportamentos que também percebeu na faculdade, quando via diferença na forma como era tratada pelos professores em relação aos alunos do sexo masculino. “Mas naquela época não se falava sobre isso. Eu só percebi que tinha algo estranho”, conta.
Mas com objetivo claro, Fabiana seguiu seu caminho com foco na disciplina. “O esporte me ensinou muito isso, de se desenvolver para chegar num resultado melhor. É uma crença minha que quanto mais focada e disciplinada eu tiver, melhores os resultados que vou alcançar”, pontua.
A escolha de integrar o time Timenow veio pelo desejo de atuar na transformação do negócio. A chegada dela foi um marco histórico para a companhia, que passa a contar com a primeira mulher a ocupar uma cadeira na diretoria.
“Tenho orgulho de dizer que sou a primeira mulher e vou ajudar outras mulheres a se desenvolverem pelas próprias competências. Depois de mim outras vieram para cargos de liderança, o que mostra que estamos olhando para a competência dos candidatos e, consequentemente, contratando mais mulheres”, declara.
Futuro
Fabiana é mãe de dois filhos: um menino e uma menina. Em casa, busca preparar os filhos para o mercado de trabalho, deixando claro, desde a infância, que não existe diferenças de competências ou habilidades baseado em gêneros.
“Não existe o azul é de homem e o rosa é de mulher. Se meu filho quer fazer algo, minha filha também pode. A minha filha hoje tem uma mentalidade sem limitações”, conta.
Para o futuro deles, no entanto, Fabiana deseja que esse tipo de discussão nem sequer precise mais estar em pauta.
“Eu luto por um mundo em que eles possam lutar por outras questões, discutir ideias, transformar o mundo, foco em tecnologia, saúde, espero que eles não tenham que discutir questões de diversidade e inclusão, aceitação e respeito. Esse é o nosso papel”, finaliza.